terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Melancolia

 Andando a esmo pela rua, ela esperava a chuva cair. Quem sabe com os pingos d'água em seu rosto, ela conseguiria esconder as lágrimas que teimavam em escapar de seus olhos?
 Observava a paisagem, fingindo para si mesma que estava tudo bem. Seu rosto dizia o contrário. Suas feições diziam o contrário. Seus olhos diziam o contrário.
 Porém, ela não se rendia. Insistia que estava tudo bem, e "quero ver quem vai dizer o contrário!" Mal sabia ela, que ela mesma dizia.
 A rua parecia não ter fim. Ela só andava e esperava que aquele céu, escondido pelas nuvens negras, carregadas de lágrimas, se rendessem sobre sua cabeça, camuflando-a. Quem sabe assim, a tristeza não a acharia. Mal sabia ela, que a tristeza já estava a seguindo há muito tempo.
 Tropeçou. Uma, no máximo duas vezes. Um raio cortou as nuvens mais próximas e se fez aparecer, deixando-a lívida. Seu coração disparou quando o trovão chegou em seus ouvidos.
 E assim...a chuva caiu, carregando suas lágrimas.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Partida

 Mais uma vez as lágrimas fogem da prisão, onde eu as mantinha, e em uma corrida desenfreada, rolam por meu rosto. Parece-me que preciso de alguém mais eficiente para mantê-las presa, sem chance alguma de escapar. Eu sou fraca demais.
 Mais uma vez eu tento fugir da prisão que a tristeza me mantem. Infelizmente, sem muita eficácia, corro apenas alguns metros, até que ela me alcance novamente.
 Cada vez é mais difícil fugir, cada vez vejo-me mais sozinha. Cada vez vejo-me mais distante de todos.
 Estão me deixando. Estão indo embora.
 Eu permaneço onde estou. Permaneço como estou. Continuo com meus sentimentos falhos, lamentando a partida daqueles que não vejo mais. E parto-me. Despedaço-me. Desintegro-me. Acabo reduzida a lágrimas. Desperto-me. 
 Quem dera fosse um simples 'até logo'.


 Para Sophia e André.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Desnecessário

Os murmúrios rondam a minha
mente.
E esta se faz cheia de palavras.
Palavras estas, que se jogam 
e se escrevem por si só.
Palavras estas, que exprimem
diariamente, o que, ao meu modo
não sei dizer.
E permaneço no silêncio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Em Função do Tempo

 O ponteiro corre no sentido anti-horário. O tempo se recusa a passar. O tempo está em greve. A grave doença que o tempo pegou.
 Agora não passa mais.
 Assim, envolvida nessa angústia, observando o ponteiro se mover lentamente, a noite também se faz mais longa, aproveitando todo o tempo - aquele que não passa - para si.
 A noite mais longa. O ponteiro mais curto. O tempo parado.
 E nós, parados no tempo. E nós, parados com o tempo. E nós, envolvidos com o tempo.
 Aquele, que hoje, rege nossas vidas. Aquele que rege a minha vida. Vida, esta, que há tempo abandonei. Vida esta, que permanece, em companhia para o tempo, em um estado estacionário.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Em Algum Lugar

  As ideias e pensamentos ecoam em minha mente, deixando-me atordoada e desorientada, andando a esmo em busca de respostas para o meu infinito questionário.
  Enquanto acrescento, a cada dia, mais e mais perguntas, e não obtenho resposta alguma, a escuridão ao meu redor vai ficando cada vez mais intensa e sufocante.
  Tenho agora apenas meus achismos, lembranças e pensamentos. A loucura tomou conta de mim por completo, enquanto eu estava a procura de minhas respostas em meio ao negrume de minha mente. Até meu próprio eu se perdeu.
  Já não tenho nada mais.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rua Sem Saída

  Estou perdida nesse mundo sem saída. Estou perdida em uma rua de mão única. Estou perdida entre buracos e bueiros, que refletem minha mente, e a torna mais difícil de se compreender. Com tantas falhas e erros como qualquer um.
  Qualquer um. Qualquer um.
  Estou andando a esmo, sem caminho certo a trilhar, sem uma trilha certa para seguir.
  Eu corro e me desencontro. Vejo minha imagem desesperada refletida nas poças. Vejo minha imagem distorcida nas poças. Vejo minha vida distorcida nas poças. E a posse de tudo aquilo que foi meu, eu já não tenho mais.
  E aquela com pensamentos confusos, é aquela que já não existe mais. E seus anseios e devaneios...se esvaem.
  Estou perdida em um mundo distorcido. Estou perdida em uma rua sem saída.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Delírio

  Ela estava deitada em seu manto negro estendido em meio a relva, diante daquele paraíso desconhecido, e portanto, inabitado. A medida que a lua nascia, ia iluminando a garota com todo seu brilho que era gentilmente cedido pelas estrelas. E como se tivesse sendo atacada pelas luzes de um holofote, se via como personagem principal daquele espetáculo.
  Observava as estrelas majestosas, pequenos pontos de luz, inspiração para tantos poetas perdidos em seus próprios delírios. Ela mesma delirava perdida em meio as nuvens e as folhas ao redor.
  O vento acariciava lhe o rosto e ela se submetia aos seus encantos. A noite cada vez mais escura, devolvia o olhar intenso da menina estirada no chão...no céu.
  Seus olhos aos poucos iam se entregando, suas pálpebras, lentamente, se fechando, enquanto sentia o céu desmoronar. E assim, morreria observando as estrelas caírem sobre si. 

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Generalização Social

  É tudo igual. Ele olhava ao seu redor, a procura de algo, porém era tudo igual. Eram todos iguais. Atordoado, se via em um mundo de mesmice. Uma rotina constante se fazia diária em seu dia-a-dia.
  A generalização da mente e das ideias, já era coisa usual de se notar. Generalização de pensamentos, e de sentimentos.
  Todos iguais. 
  As pessoas, as mesmas, sempre as mesmas, passavam ao seu redor com um olhar de desdém estampado em seus rostos, ao observar o louco, a aberração no meio da rua.
  Ele, angustiado, olhava para o céu, buscando alguma saída daquela rotina de pessoas, de ideias e de paisagens.
  Homens e mulheres passavam rapidamente por ele, que ia tonto, de um lado para o outro, enquando as pessoas mal o notavam.
  E de homem, passou a ser aberração. E de aberração, passou a ser invisível.

sábado, 1 de maio de 2010

Tempestade

                 Mais uma vez o tempo se decepcionou, chorou, gritou, chocou, desabou. E tudo isso sob nossas cabeças ditas pensantes. Nada fizemos, nada falamos.
                 Observamos a tempestade exaurida de sentimentos se fazer real perante nossas construções físicas e mentais. Olhares aflitos e conduzidos pela insegurança planavam pelo local, que dessa vez, era a terra dos homennzinhos prepotentes que se dizem muito, e não são nada além de mísera poeira diante do infinito.
                 Ficamos todos ali, reduzidos ao perturbante nada, reduzidos à humilação da efemeridade do nosso existir. Esperando que o tempo desse uma trégua, para que pudéssemos continuar a nos vangloriar por nada mais que idéias sem fim.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Relato de Um Coração Abandonado

 Eu andava solitário pelo caminho de pedras, com as minhas mãos no bolso. Vagarosamente, um passo após o outro, e assim, continuava em minha lenta caminhada pela estrada da dor.
 Olhei para o céu e vi as poucas nuvens que estavam presentes naquele dia, divagarem pela imensidão azulada. Porém, em minha mente, tudo estava nublado e transtornado em meio as nuvens cinzas e carregadas.
 Meu coração já estava alagado com tantas lágrimas que, internamente, guardei.
 Continuei em meu caminho mórbido, até que a avistei. Sentada em baixo da sombra de uma árvore, estava ela. Minha doce menina. Meu coração se apertou, e meus olhos arderam ao ver que estava chorando.
 Minha mente se encheu de culpa e meus lábios de lamento ao lembrar que minhas palavras sórdidas, e eu, éramos a razão daquelas tão sofridas lágrimas.
 Imediatamente senti repulsa por mim mesmo ao ver todas as frases vis e rudes que pronunciei, passarem novamente, por minha mente.
 Ah, minha menina. Minha doce menina. Não sabe o quanto lamento por naquele dia não ter tido coragem o suficiente para ir em frente e lhe pedir perdão. Não. Continuei em minha covardia; dei a meia-volta e a deixei com suas lágrimas e meu coração.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Estação perturbante


Não posso, ou melhor, não consigo mais sentir meu interior guiando minhas ações rotineiras. Eu sei que é algo diferente, pouco usual, mais prefiro viver assim do que freneticamente tentar achar sentido onde não há. Vivemos querendo arranjar explicações plausíveis para situações corriqueiras causadas por nós mesmos, mas a verdade, é que, não há uma regra linear com a qual possamos lidar. Nossas vidas são nada mais do que invenções desenhadas num dito presente, que é constante metamorfose, que se transforma em futuro antes que percebamos que o dia já virou noite. É difícil não surtar, ou afastar-se da sanidade quando nos deparamos com o famoso dilema: ser ou não ser. E quando paramos pra pensar que mal sabemos de onde viemos ou para onde vamos, a tragédia de viver plenamente se transforma em complexidade incompreensível. Incompreensível é pensar que somos muito sem saber ao menos o que somos. Mas, para não me perder novamente diante de meus pensamentos ditos ilusórios, é melhor voltar para minha robotizada e rotina, antes que o trem parta e eu fique presa na estação das interrogações novamente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Lar Prisioneiro


  Em minha casa da árvore enlouqueço, me esqueço, feneço...criado em nuvens sem nome, sem chuva e sem choro, solitário, me perco entre os raios de sol que não me aquecem.
  Em um frio embalante, em minha casa da árvore, eu estou. Como criança desamparada, não grito e não ouço. Nem os pássaros chegam até mim. Solitário eu estou.
  Em um silêncio constante permaneço. O tempo não passa por mim. Me esquece, me enlouquece, e em minha prece, não peço, suplico.
   Em uma altura distante. Não me encontro, só me perco mais e mais, preso em memórias passadas e lembranças renegadas. As palavras também me deixaram. Foram e não voltaram.
  Em uma prisão ilusória me perdi. Em minha casa da árvore, vivo, desde então.