domingo, 25 de outubro de 2009

Vidas unidas por um vento qualquer


                                                                 Ela
Ela pegou o sobretudo preto que estava sobre a cama estendida. O dia la fora seguia seu curso natural, mas a vida dela não estava nada conforme o esperado. Não havia sentido viver assim. Resolveu dirigir até a praia. Chegando Lá avistou o mar interminável em sua cor profunda e ilimitada. Era estranho ver toda aquela perfeição e se sentir deslocada no mundo, num mundo que nem sabemos ao certo o que é. Tirou um papel em branco do bolso e escreveu: "Sempre existirá uma segunda chance". Jogou-o ao vento, deixou que a natureza o carregasse para um destino mais adequado. Depois disso, ela sentou nas pedras gélidas e infindáveis que estavam ao acaso ali na praia. O vento levou o papel na direção oposta ao mar. Enquanto a noite chegava ela sentia calafrios por todo o corpo.

                                                                      Ele
Ele saiu de casa apressado, não conseguia saber bem o porque de tudo aquilo, estava decidido, a fazer o que achava que era melhor para si mesmo. De fato não há o melhor ou pior, apenas o mais adequado. Vestiu suas roupas velhas, sujas, entrou no carro que mal funcionava. Dirigiu em direção a praia, levou consigo sua sentença de morte dentro do bolso, algumas pílulas perversas. Chegando lá viu um carro na direção oposta à estrada, parecia uma mulher, não importa. Estacionou bem perto da praia, estava bem escuro, a lua minguante era pouco para tamanha imensidão. Ele sentiu cada grão de areia com a sola dos pés, mas algo de textura desconhecida o incomodou. Olhou para baixo,viu um papel meio amassado. Forçou os olhos, e conseguiu ler: "Sempre existirá segunda chance". Meteu a mão no bolso, jogou as pílulas no solo arenoso. Dirigiu em direção à sua casa com pensamentos distantes. O sol nasceu no horizonte.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Cada Um...

  Cada riso que deixei de sorrir. Cada choro que deixei de chorar. Cada palavra que deixei de dizer. Cada janela que deixei de abrir. As flores morreram e eu não mais poderei tocá-las.
  Cada inverno que não aproveitei. Cada sopro de vento que não senti. Cada pôr-do-sol pelo qual não agradeci. Cada sonho que abandonei. Voam livres e ganham asas para, quem sabe, poder pousar em uma outra mente ingênua de uma criança qualquer.
  Cada frase que deixei de ouvir. Cada conselho que não me importei. Cada minuto que nem vi. Cada sentimento que veio me destruir. Apunhalou-me e deu as costas para não ver-me cair no sono eterno.
  Adeus.