segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Saber onde pisar

Quando as palavras se esgotam, quando os olhares não se destacam, quando nossos gestos são repetitivos, quando as falas já são decoradas, quando os passos são iguais, e as escolhas perfeitamente previsíveis. Quando tudo isso ocorrer no mesmo delicado instante, e fazer parte da vida de várias pessoas, que convivem juntas, ah isso será terrível. Nós saberíamos o que
esperar de quem esperar, saberíamos em quem confiar e em quem não olhar. Bom, não seria tão ruim afinal, não seria tão mal. Apenas faríamos parte de rotinas previsíveis, opacas, rotinas manipuladas. Saberíamos onde pisar, com quem falar na hora certa. Tudo corretamente regrado. Ninguém seria desmascarado talvez, e as surpresas se extinguiriam. Será que quando
palavras, olhares, gestos, falas, passos e escolhas forem banidos de se diferenciar, trair ou apoiar, as rotinas ficarão tão iguais que apenas nos dedicaremos a arte de vegetar ? A resposta para esta pergunta não existe, ou melhor, respostas sempre irão existir, mas resultados precisos são difíceis de se obter. Por isso o melhor a se fazer é seguir a espontaneidade, pois isso, é raro de se ver, e é impossível de se manipular.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Porta Entreaberta

Ele olhou, pela porta entreaberta, a dor dela sentada no chão. Apoiando seu queixo nos braços, e estes apoiados nos joelhos.
Sua angústia o atingiu. O desespero de se sentir só.
Via o esforço que ela fazia para ser forte e não derramar nem ao menos uma lágrima. É claro. Ele já devia imaginar. Ela não ia se entregar, assim, tão fácil, à dor.
Com tal simplicidade e leveza em seus atos, adentrou a porta, sem que ela percebesse. Parou ao lado dela, que só notou a presença do rapaz, quando este entrou na frente da luz que a iluminava fazendo com que uma grande sombra a engolisse.
O olhar dela, quando levantou sua cabeça, fez o coração do rapaz se apertar, e sua garganta arranhar, impedindo-o de pronunciar qualquer palavra ou onomatopéia.
Quando ela derramou a primeira lágrima daquela angústia, seus próprios olhos arderam e seu coração se encheu de ternura. Ele podia ver, também, através da dor, sua raiva, por fazê-la chorar. Ele apenas lamentou. Se abaixou para ficar a altura dela. Com as costas da mão, enxugou a única lágrima que salgava-lhe os lábios e gentilmente fez um carinho em sua bochecha, deixando-a levemente corada.
Ainda sem pronunciar qualquer palavra, ele se sentou ao lado dela, igualmente calada, e a abraçou, deixando-a manchar sua camisa com suas árduas lágrimas.
Percebendo a gratidão que ela sentia por não perguntar o porque desse choro, para ele, sem sentido, passou a mão em seus cabelos, e assim ficaram noite adentro.