E então seu coração parou. Revivia momentos e momentos. Cada ideia perturbada que perfurou sua mente. Cada conto de fada que esmagou seu coração. Cada palavra sangrenta que passou por seus lábios e cada nota sofrida. Deixou pra trás dores que não eram suas. Deixou pra trás a velha falsa alegria. Deixou pra trás tantas lágrimas de rotina. Deixou-se pra trás...e decidiu seguir.
Sua mente a abandonava, enquanto cada lembrança
esquecia-se dela.
Seu corpo, atormentado pelas suas memórias,
desfalecia-se. Pedia perdão por erros que não foram cometidos. Clamava, em
desespero, pela paz. O tormento que a impedia de ser.
A carta de socorro foi entregue. Aquele último grito inaudito.
Abandonado, se foi. Escondido, nas asas de um sussurro. Atrás de cada palavra que lhe fugia pelas mãos.
Escorregava por entre os dedos.
As palavras já não diziam, gritavam.
A voz já não saia,
engasgava-se nas próprias lágrimas.
Quando o tempo não para, não há horas reservadas para discussões. As alegrias são passageiras e as tristezas ficam apenas na memória. Não há tempo para lamentações. O tempo não para, mas por um segundo os olhos piscam. A noite e o dia em um piscar de olhos. A noite e a noite. A noite e a madrugada. A noite e a manhã. A noite e a tarde. Quando o tempo não para, é custoso a passar. O relógio parou. O tempo não. O homem não. O homem parou.
Quando o tempo não para, tudo vira arte, o borrão de um pincelada no papel. Mas o tempo não para, e não há tempo para apreciá-la.
O tempo não para, ele anda, ele corre, ele voa. Não temos tempo pra isso. Nao temos tempo praquilo. Não temos tempo pra nada. É pessoas que se vão, é saudade que se encontra, é trabalho mal feito, é noite mal dormida.
O tempo não para nem para um cochilo, nem para um café. O tempo não tem horário de almoço. O tempo ficou exausto.
As palavras fugiram-lhe a mente. A melodia, agora, só,
arranhava-lhe os ouvidos, sangrava-lhe a alma. Arrancava-lhe, a força, lágrimas
sofridas.
Os risos da menina já não eram sinceros, não chegavam
aos seus olhos. Foram expulsos pelas pequenas gotas salgadas.
Todos os dias, esperava que a chuva a acolhesse.
Poderia esconder sua própria tempestade particular. Poderia fingir que estava bem. Estava
tudo bem. Está tudo bem.
E ia seguindo a própria vida. Enganando a todos.
Enganando a si mesma.
Procurando palavras, resgatando-as.
Até que ousasse ouvir novamente. Até que ousasse sentir
novamente.