Andando a esmo pela rua, ela esperava a chuva cair. Quem sabe com os pingos d'água em seu rosto, ela conseguiria esconder as lágrimas que teimavam em escapar de seus olhos? Observava a paisagem, fingindo para si mesma que estava tudo bem. Seu rosto dizia o contrário. Suas feições diziam o contrário. Seus olhos diziam o contrário. Porém, ela não se rendia. Insistia que estava tudo bem, e "quero ver quem vai dizer o contrário!" Mal sabia ela, que ela mesma dizia. A rua parecia não ter fim. Ela só andava e esperava que aquele céu, escondido pelas nuvens negras, carregadas de lágrimas, se rendessem sobre sua cabeça, camuflando-a. Quem sabe assim, a tristeza não a acharia. Mal sabia ela, que a tristeza já estava a seguindo há muito tempo. Tropeçou. Uma, no máximo duas vezes. Um raio cortou as nuvens mais próximas e se fez aparecer, deixando-a lívida. Seu coração disparou quando o trovão chegou em seus ouvidos. E assim...a chuva caiu, carregando suas lágrimas.
Mais uma vez as lágrimas fogem da prisão, onde eu as mantinha, e em uma corrida desenfreada, rolam por meu rosto. Parece-me que preciso de alguém mais eficiente para mantê-las presa, sem chance alguma de escapar. Eu sou fraca demais. Mais uma vez eu tento fugir da prisão que a tristeza me mantem. Infelizmente, sem muita eficácia, corro apenas alguns metros, até que ela me alcance novamente. Cada vez é mais difícil fugir, cada vez vejo-me mais sozinha. Cada vez vejo-me mais distante de todos. Estão me deixando. Estão indo embora. Eu permaneço onde estou. Permaneço como estou. Continuo com meus sentimentos falhos, lamentando a partida daqueles que não vejo mais. E parto-me. Despedaço-me. Desintegro-me. Acabo reduzida a lágrimas. Desperto-me. Quem dera fosse um simples 'até logo'.